quarta-feira, 20 de maio de 2015

Realizou-se no dia 23 de Abril no Instituto Politécnico de Setúbal a 19ª Conferência Nacional de Formadores subordinada ao tema "Aprendizagem ao Longo da Vida  Aprender ou Formar ?"


Ana Machete, Presidente da nossa Universidade, foi convidada a participar tendo apresentado a seguinte comunicação

A APRENDIZAGEM NOS ADULTOS – uma abordagem andragógica

Apresentação

Agradeço à Drª Eduarda Caridade da Uniseti o convite para participar na 19ª Conferência Nacional de Formadores.

A Universidade Sénior de Azeitão completou em Março o seu 4º ano de funcionamento.

Na sua génese esteve o conhecimento da importância que têm as actividades ocupacionais na valorização dos seniores e dos seus saberes conhecimentos e experiências, proporcionando-lhes uma forma de encararem a situação de reforma de maneira pró-activa, e o processo de envelhecimento como mais uma etapa da vida e não como o seu último patamar.

A nossa acção tem passado por iniciativas que promovem e valorizam os saberes e competências dos alunos, pela oferta de oportunidades de descoberta e de aquisição de conhecimentos diversificados e pela promoção do convívio e de novos relacionamentos sociais.

Queremos também ter um papel de consciencialização da sociedade face ao processo de envelhecimento e é com satisfação que vemos a USAZ progressivamente reconhecida pelas entidades públicas e privadas do concelho, com quem vamos estabelecendo parcerias, e pela comunidade em geral, que nela concretiza a oportunidade efectiva de participar na educação para a cidadania, para a saúde, para a valorização humana e para a formação ao longo da vida.

É nesta linha de reconhecimento e aceitação por parte da comunidade em que se insere, que ambicionamos continuar a manter esta resposta social e formativa, proporcionando a todos aqueles que desejem fazer parte desta “comunidade universitária” a possibilidade de se sentirem cada vez mais activos, saudáveis, criativos, informados, valorizados, úteis e felizes.

Desde que iniciou a sua atividade a USAZ tem vindo a crescer no número de alunos, de professores, de disciplinas e de polos onde as nossas atividades decorrem.

Depois desta breve apresentação, vamos falar do tema que aqui me traz hoje e sobre o qual se põem duas perguntas pertinentes:

A 1ª - Porque é que os seniores frequentam as UTI’s

A 2ª - Como aprendem os alunos das UTI’s

Abordando 1ª pergunta:

A partir de meados do século XX assistimos a mudanças profundas decorrentes da inovação científica e tecnológica, da globalização e das transformações demográficas, entre as quais se inclui o aumento da esperança de vida.

Na sequência da evolução tecnológica e do aumento da esperança de vida, com a qualidade que hoje lhe conhecemos, surgiram novas necessidades relacionadas com a aprendizagem ao longo da vida.

Se perguntarmos o que leva um número cada vez maior de pessoas que já finalizaram a atividade de várias décadas dedicadas ao mundo laboral a querer aprender e a regressar à “escola”, verificamos que as universidades seniores são agentes facilitadores da auto-valorização, proporcionam momentos de aprendizagem, através do lazer e do prazer proveniente dessa mesma aprendizagem, e despertam nos seniores o sentido de utilidade, desenvolvendo-lhes a capacidade crítica, a liberdade e a possibilidade de se exprimirem e a oportunidade de se dedicarem àquilo que mais apreciam, acedendo a novos conhecimentos e a matérias inovadoras que vêm preencher lacunas na sua formação anterior.

Para além da ocupação do tempo sobrante, estabelecem-se novas redes de amizades e acede-se a novas percepções da realidade. A perda das ligações com os ex-colegas de trabalho, nalguns casos com o companheiro de toda a vida e até com os filhos, que na maioria dos casos já deixaram a casa dos pais, potencia a criação de uma «outra família», que agora cada um tem a possibilidade de escolher livremente.

Desta forma, o convívio e as relações informais de amizade estabelecidos nesses espaços, desempenham um papel relevante nesta etapa específica da vida, acrescentando-lhe novos sentidos, alegrias e a sensação de estar «vivo», de aproveitar a vida e de a encarar de maneira positiva, permite afastar os alunos do isolamento e da solidão, integrando-os positivamente na sociedade.

As universidades seniores assumem um papel importante no combate contra a desvalorização social daqueles cuja idade é mais avançada, mas que podem alcançar o sucesso, mantendo uma perspetiva positiva do envelhecimento, através do estabelecimento de planos para o futuro.

Retomemos a 2ª pergunta: - como apendem os alunos das UTI’s?

O adulto é o sujeito da educação e não o objeto da mesma.

A experiência de vida dos adultos é uma fonte para a aprendizagem o que os distingue das crianças e dos jovens. Tratando-se de uma população com características diferentes, o modelo de ensino terá também que ser diferente do modelo pedagógico, que tal como o nome indica se destina à educação e à formação de crianças e jovens, ou seja, os métodos utilizados no ensino dos mais jovens e os conteúdos que por norma se ensinam nas escolas onde se pratica o ensino formal, não são os mais adequados a uma população adulta.

Na aprendizagem dos adultos fala-se então do modelo andragógico

Andragogia é a ciência que tem como objecto o estudo do processo de aprendizagem de adultos e das melhores práticas para os orientar a aprender considerando os seus aspectos psicológico, biológico e social.

O modelo andragógico baseia-se nos seguintes princípios:

1º princípio - Necessidade de saber: De uma forma geral, os adultos estão dispostos a iniciar um processo de aprendizagem, desde que compreendam a sua utilidade para melhorar a resolução dos problemas reais e das tarefas com que se confrontam na sua vida quotidiana. (o que desaconselha claramente uma lógica centrada em conteúdos);

2º princípio - Conceito de si: Os adultos são conscientes e responsáveis pelas suas decisões e pela sua vida, portanto é necessário que sejam vistos e tratados pelos outros como indivíduos capazes de se autogerirem e não como crianças.

3º princípio - Papel da experiência: Para os adultos as suas experiências de vida facilitam e são a base da aprendizagem. Na fase adulta somos capazes de criticar e analisar as situações e de estabelecer paralelos com as experiências já vividas, aceitando ou não as informações que nos chegam.

As diferenças individuais entre pessoas cresce com a idade, por isso, a educação de adultos deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem.

As técnicas que aproveitam os saberes e ao mesmo tempo as diferenças individuais serão as mais eficazes, tanto mais que muitas vezes os aprendentes partilham voluntariamente entre eles o que sabem.

4º princípio - Vontade de aprender: os adultos ficam dispostos a aprender quando a ocasião exige algum tipo de aprendizagem relacionado com situações reais e com a resolução de problemas do dia a dia. ou por oposição quando se trata de matérias completamente inovadoras que vêm preencher uma lacuna na sua formação anterior.

5º princípio - Orientação da aprendizagem: Os adultos trazem uma bagagem de experiências que podem contribuir para sua própria aprendizagem e aprendem melhor quando os conceitos apresentados estão contextualizados para alguma aplicação e utilidade.

6º princípio - Motivação: os adultos são mais motivados a aprender se essa motivação for interna, ou seja se corresponder a necessidades individuas, se favorecer a autoestima, a qualidade de vida e o desenvolvimento pessoal, se for factor de inovação, ou se o conteúdo a ser aprendido for de aplicação imediata.

A andragogia, enquanto modelo da educação de adultos, centra-se mais no processo de aprendizagem do que nos conteúdos a aprender e caracteriza-se pela horizontalidade e pela participação.

Considera-se horizontalidade como uma relação “entre pares”, que partilham atitudes, responsabilidades e compromissos, no sentido de alcançarem objetivos individuais e resultados comuns.

A participação deve ser entendida como a acção de tomar decisões em conjunto, ou fazer parte com outros, na execução de determinada tarefa.

A participação é o acto de partilhar algo, “dar e receber”, envolver-se num projeto ou causa comum e investir nela enquanto sua também. Tal capacidade é facilitadora, enquanto factor de motivação para a execução da tarefa, aumentando o nível geral de satisfação da equipa.

O professor é considerado um facilitador, e como tal, sua relação com os aprendentes é horizontal, tendo como principais características a flexibilidade, o diálogo, o respeito, a colaboração e a confiança.

Os alunos podem participar nas diversas fases do processo de ensino-aprendizagem, tais como:

  • Diagnóstico das necessidades educativas;
  • Elaboração do plano de formação e estabelecimento de objetivos a partir do diagnóstico;
  • Formas de avaliação.

A metodologia é voltada para a participação activa dos aprendentes, e a organização curricular é flexível e adaptável, visando atender às especificidades de cada adulto.

O clima propício para a aprendizagem, segundo o modelo andragógico, tem como características o conforto, a informalidade e o respeito, garantindo assim, que o aprendente se sente seguro e confiante.

Cada vez existem mais pessoas idosas no mundo e é importante que haja oportunidades para continuarem a aprender. A vontade de fazer novas aprendizagens deve ser estimulada, apoiada e sustentada com recurso a práticas facilitadoras e adequadas à aprendizagem na idade adulta.

Educação para todos também deve significar: dar às pessoas, independentemente da idade, a oportunidade de desenvolver o seu potencial, colectiva ou individualmente, fortalecendo a capacidade de lidar com as transformações globais que ocorrem na economia, na cultura, na tecnologia e na sociedade como um todo.

Que bom seria podermos dar mais vida aos anos e dar mais anos à vida.